terça-feira, 28 de junho de 2011

A Declaração de Pedro em Mateus 16:13 Parte 3

Analisando as duas palavras-chave do verso em estudo, nas quais se encontra a dificuldade para entender se Cristo falava de Pedro ou de si mesmo, as palavras são πετρος e πετρα.

Também eu te digo que tu es πετρος (Petros) e sobre esta  πετρα (pedra) edificarei a minha igreja.”

“Πετρος” – essa primeira palavra é um substantivo. É traduzida como pedra, rocha, pedaços de rocha quebrada, uma pedra e Pedro.

 “Πετρα” – essa segunda palavra é um substantivo simples. É traduzida como rocha, massa de rocha, pedra como material, seixos rolados e empregava-se já em Homero como símbolo de firmeza.

A palavra πετρος (petros) aparece 158 vezes no Novo Testamento. Todas as vezes que é utilizada, tem o sentido substantivo próprio, isso é, o nome de uma pessoa.
Dentro da perícope essa expressão aparece nove vezes, nas quais em apenas uma, Mt 16:16, poderia ser útil na compreensão do problema levantado. Nesse verso é apresentado Pedro sendo usado por Deus e respondendo a pergunta de Cristo, confessando que Ele era o “Cristo, o Filho do Deus vivo”.
Pedro sabia quem realmente era Jesus.
No livro de Mateus a palavra πετρος aparece 24 vezes, sendo a primeira vez em Mt 4:18. Sempre que é utilizada, tem a função de substantivo próprio.
Nos evangelhos sinóticos encontram-se também paralelos sobre a história da confissão de Pedro, mas nenhum deles relata o que Cristo disse posteriormente ao discípulo. Já o evangelho de João não relata nada sobre essa história.
De todas as vezes que ocorre essa expressão no Novo Testamento, pode-se destacar as passagens de Jo 1:42, a qual relata Cristo fazendo um chamado a Simão e dizendo que “tu serás chamado de Cefas (que quer dizer Pedro)”. No aramaico, Kephas é a palavra equivalente aos vocábulos πετρος e πετρα. Certamente Cristo, em Mt 16:18, falou em aramaico. Sendo assim, por que existe essa diferenciação entre πετρος e πετρα?
De fato, Mateus utilizou as duas expressões, πετρος e πετρα. Embora Cristo tenha falado em aramaico, Ele pode ter feito uma diferenciação nas palavras usando uma
expressão ou um sinônimo. Ou então, ao Mateus escrever o evangelho em grego, sendo guiado pelo Espírito Santo, fez a diferenciação das palavras.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

A Declaração de Pedro em Mateus 16:13 Parte 2

O Contexto da declaração de Pedro

O início de Mt 16:13 diz que Jesus estava indo para “Cesárea de Filipe”. provavelmente essa viagem ocorreu na metade do ano 30 d.C., no momento em que Jesus se retirou do ministério público e se dedicou a instruir seus discípulos.
Ele iria ensinar os discípulos sobre Sua paixão, mas não adiantaria falar sobre esse sofrimento se primeiramente, as pessoas não reconhecessem que Ele era o Filho de Deus, o Salvador do mundo, o Messias, o Cristo. Jesus então apresentou uma pergunta: “Que diz o povo ser o Filho do Homem?” (Mt 16:13), “e eles responderam: Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias ou algum dos profetas” (Mt 16:14).
Jesus sabia da incredulidade e falta de fé do povo. Sabia que eles O consideravam apenas como um dos profetas que anunciaria a vinda do Messias, porém, Ele fez essa pergunta aos discípulos a fim de prepará-los para a questão seguinte: “Mas vós”, “quem dizeis que Eu sou?” (Mt 16:15). Com essa pergunta, Jesus saberia se os discípulos que conviveram com Ele mais de perto, O viam como o Messias.
“Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16:16). Aqui Pedro faz sua confissão, reconhecendo a Jesus como o Messias. Em Mt 16:17, Jesus diz a Pedro que foi o “Pai, que estás nos céus” que revelou para ele.
E Jesus continuando Sua conversa com Pedro diz: “Também Eu te digo que tu és Pedro, (πετρος,  petros)  e sobre esta pedra (πετρα, petra) edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16:18).

Na próxima postagem faremos uma breve analise das duas palavras no grego.

terça-feira, 21 de junho de 2011

A Declaração de Pedro em Mateus 16:13 Parte 1

Esta e uma das passagens mais polemicas de toda a escritura, para os católicos ela afirma que Pedro foi nomeado por Cristo como o primeiro Papa, para outros ela afirma que Cristo e quem fundou a igreja.
Temos que considerar que a igreja não se trata de nenhuma denominação ou templo físico ou administração eclesiástica, igreja surgiu com a Cruz e ela é o corpo de Cristo no sentido espiritual e não fisico.
Muito embora tenhamos o habito de chamar os templos e a denominações de igreja.
Vejamos o Texto
“Indo Jesus para os lados de Cesárea de Filipe, perguntou a seus discípulos: Quem diz o povo ser o Filho do Homem?
E eles responderam: Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias ou algum dos profetas.
Mas vós continuou ele, quem dizeis que eu sou?
Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.
Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus.
“Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.”

Para analisarmos este texto precisamos marcar sua Pericope.
Pericope conforme definição do dicionário Prebiram “1. Porção considerável de um texto que se corta para servir de prova ou para outro fim. 2. Liturg. Passagem das Epístolas e dos Evangelhos que se lê nas missas solenes.”
A perícope da passagem que está sendo analisada vai de Mt 16:13 até Mt 17:23,  nos focalizaremos nossa analise somente ate o verso 18 do capitulo 16, pois o foco desta nossa postagem e a declaração de Pedro verso 16,   e a resposta de Cristo verso 18 em negrito acima.

Nas próximas postagens falaremos sobre o contexto da declaração de Pedro e faremos uma breve analise léxico sintática do verso 18.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Como o Evangelho foi formado Parte 5

 

Teoria dos Pais da Igreja.

 No início dos primeiros anos do Cristianismo, surgiram os escritos dos Padres Apostólicos, assim chamados por sua proximidade histórica com os Apóstolos. Dentre eles destaca-se Pápias, que viveu, aproximadamente, entre os anos 70 a 140 d.C.. Segundo os testemunhos que se têm, era bispo de Hierápolis, na Frígia, atual cidade turca de Pambukcallesi. É importante o seu testemunho relativo às origens dos Evangelhos Sinóticos.
Sobre Mateus, Pápias diz o seguinte (Eusébio de Cesárea, HE, III, 39, 16):
"Mateus reuniu ordenadamente, em língua hebraica, as sentenças (de Jesus), e cada um as interpretava conforme a sua capacidade."
Agostinho e a sua solução que encontrou adeptos até no século XX (entre eles Theodor Zahn e, com restrições, Adolf Schlatter). Ele parte do princípio de que os evangelhos surgiram na seqüência em que estão no NT hoje. Assim, o evangelho de Mateus é o mais antigo, o evangelho de Marcos um extrato de Mateus, e Lucas se baseia nos dois.
Assim para um grupo de pais da igreja os evangelhos teriam sido formados na ordem em que esta nas escrituras,  haveria um evangelho de Mateus primitivo escrito em hebraico que se perdeu e deste se basearam Lucas e marcos para formação dos evangelhos sinóticos.

Conclusão: as três principais teorias sobre a formação dos evangelhos são validas e todas têm seus argumentos, podemos ate fazer uma mistura entre elas, Seria a fonte “Q” (da teoria das duas fontes) o evangelho primitivo de Mateus? 

Seja como for, temos que dar Graças porque o criador preservou os testemunhos daqueles que viram e ouviram o verbo encarnado.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Como o Evangelho foi formado Parte 4


A Teoria das duas fontes
Os paleógrafos  ao comparar Mateus e Lucas, concluíram que estes dois evangelhos são caracterizados por uma semelhança quase literal nos textos que têm a mais do que Marcos, diferenciando-se, no entanto, na seqüência dos textos apresentados.
Disso eles concluiram que Mateus e Lucas se basearam num texto grego comum. Assim denominaram esse texto de fonte dos discursos, pois consiste em grande parte de discursos ou ditos, de Jesus.
 Hoje o texto é chamado também de documento dos logia, ou simplesmente, o documento Q (de “Quelle” = “fonte” em alemão).
Marcos é a base para Mateus e Lucas (Marcos foi o primeiro) e Mateus e Lucas fizeram uso do documento dos discursos (Q) e o incorporaram no seu evangelho. Além disso, os sinópticos ainda usaram outras fontes para o material exclusivo que apresentam.
Em favor de Marcos como o texto primitivo existe os seguintes argumentos:
1) Marcos é o mais curto dos primeiros três evangelhos. Por causa do enorme respeito que existia na igreja primitiva pelo santo texto dos evangelhos, é mais provável que tenha havido uma expansão do que um resumo do texto. Por isso o texto mais curto é o mais antigo.
2) Mateus e Lucas só se assemelham na estrutura, no conteúdo, na seqüência e na formulação do texto naquelas passagens básicas em que são paralelos a Marcos. Como exemplo disso servem os capítulos 4 e 5 de Marcos com os seus paralelos com os outros dois evangelhos.
3) Marcos apresenta pouco material que aparece somente no seu evangelho. O texto exclusivo de Mateus e Lucas se estende por vários capítulos.
Existem outros argumentos, mas nossa postagem ficaria extensa..na próxima, comentaremos a teoria dos pais da igreja

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Como o Evangelho foi formado Parte 3

A critica Histórica e a datação dos evangelhos.
Os críticos da forma que criaram o método denominado histórico critico,  datavam os evangelhos em período bem posterior a sua possível composição original, os teólogos liberais datavam os Evangelhos muito tardiamente, dizendo que eles foram escritos pelas comunidades posteriores aos apóstolos e não pelos próprios evangelistas.
Isso era colocado em parte por falta de documentação para derrubar esta teoria e em parte pela fase primaria dos métodos de pesquisa e analise em papirologia.
Com a evolução da Papirologia e as descobertas de Qumrân em 1947, esta teoria dos críticos liberais foi completamente derrubada.
Em 1955 foi descoberta em Qumran, uma gruta com características especiais: a gruta 7. Todas as grutas até então encontradas continham material escrito em hebraico ou aramaico. Mas a gruta 7 continha fragmentos e jarros com escrita em grego.

                                          gruta 7

No momento dessa descoberta não se percebeu o seu valor. (por conta da fase ainda inicial dos métodos de pesquisa e analise ) O Dr. C.H.Roberts datou alguns fragmentos como sendo muito antigos: o fragmento 7Q5 seria do ano 50 d.C.. Os conteúdos, porém, destes fragmentos em grego não foram, neste momento, identificados.
Apenas como exemplo citaremos o estudo do Padre Espanhol Jose O`callaghan que era um grande estudioso dos manuscritos originais, alem de papirologo e paleógrafo
O'Callaghan trabalhando com o fragmento 7Q5 fez a identificação visual do mesmo com uma passagem do Evangelho de Marcos, Mc 6,52-53.
Entrou em contato com o Pe.Ignace de la Potterie, que o aconselhou a fazer os testes no computador, para que não houvessem dúvidas quanto à identificação. 

                                                       fragmento 7q5 evangelho marco

Foi então usado o sofisticado programa Ibycus, que fazia pesquisas em toda a literatura greco-romana até então conhecida e em todos os outros textos da antiguidade. A única identificação que o programa acusava era a mesma passagem do Evangelho de Marcos apontada por O'Callaghan. Não havia dúvida quanto a identificação: ela estava correta!, assim o evangelho de marcos teria sido escrito entre 42 e 49 muito antes do que os críticos tem colocado, temos exemplo semelhante no evangelho de Mateus, mas não iremos comentar nesta postagem.
Nas próximas postagens comentaremos a teoria das 2 fontes e a teoria dos pais da igreja na formação dos evangelhos sinóticos.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Como o Evangelho foi formado Parte 2.

Falamos semana passada sobre as três principais teorias da formação dos evangelhos, existem muitas outras, e não teríamos como comentar todas neste blog, mas vamos comentar as três principais no meio teológico.
A teoria dos Fragmentos.
De acordo com essa sugestão, os evangelhos sinópticos são constituídos de inúmeros pequenos fragmentos que foram registrados pelos apóstolos e seus ouvintes. Nisso teriam imitado os alunos dos rabinos judaicos que também anotavam os ensinos e atos dos seus mestres.
Os Evangelhos sinóticos teriam então, sido formado da coleção desses fragmentos, do grego diegesis (relato, narrativa).
A hipótese dos fragmentos tem muitos argumentos a seu favor, principalmente o início do evangelho de Lucas. Conforme Lucas  1: 1 a 4.
 Aceitando como pressuposto a tradução dos fragmentos para o grego, ela explicaria inclusive a semelhança literal dos evangelhos sinópticos.
Gostaria apenas de esclarecer um critica feita a postagem anterior por um amigo, quando disse que os judeus eram tolerados pelos romanos , isso não significa que estava tudo tranqüilo, apenas não havia uma perseguição aberta de Roma, aos judeus convertidos,  mas sim do próprio sinedrio, os apóstolos eram tolerados, mas quando um gentio se convertia eles eram constrangidos a seguir as tradições judaicas e sofriam perseguição.
Na próxima postagem antes de comentar  a teoria das 2 fontes e a teoria dos pais da igreja na formação dos sinóticos, falaremos também sobre a datação dos evangelhos e a critica histórica.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Como o Evangelho foi formado Parte 1.


Existem inúmeras teorias de como o evangelho foi formado e chegou ate nós.
Todas elas são hipóteses, e os estudiosos e teólogos têm evidenciado três principais hipóteses:
A teoria dos Fragmentos, a teoria das duas fontes e a teoria que vou denominar de  teoria dos pais da igreja (esta terceira teoria não tem esse nome, mas vou chamá-la assim porque foi difundida por Agostinho e Papias).
Antes de comentá-las precisamos ter em mente o ambiente político e cultural à época dos apóstolos.
Na época dos apostolos, pelo menos até o imperador Nero, o judaísmo era tolerado, por conta da amizade que Herodes conquistou primeiro com Marco Antonio e depois com Otaviano Augusto primeiro imperador real de Roma, Julio Cesar seu tio foi assassinado muito precoce.
Assim a igreja de Jerusalém gozava de prestigio e a perseguição ocorria enfaticamente contra os gentios que se convertiam, os judeus por conta da tolerância romana não foram muito afetados neste período, a igreja já adotava a tradição oral do judaísmo com os apóstolos passando o que haviam visto e ouvido de Cristo.
Mas como conseqüência da converção de muitos gentios viu-se a necessidade de colocar sob a forma escrita a tradição oral, e não somente por isto, mas também para passar para o grego os discursos de Jesus. que foram primeiramente escritos em Hebraico e aramaico.